E eu daria tudo pra te ter de volta, passo horas e horas do
meu dia sentado na janela olhando para o nada, afogado em recordações que não
me deixam seguir em frente.
Escrevo, deito, ligo a tv, volto a escrever novamente, dou
voltas e voltas pelo apartamento todo, como se procurasse por algo que perdi,
mas sem nunca ter me pertencido de fato. Algo que não existe, mas me faz tanta
falta quanto o pulmão precisa de oxigênio para respirar, eu mal tenho
conseguido respirar.
.
.
Ontem pela manhã, escovando os dentes me peguei olhando no
espelho, e percebi que envelheci uns 30 anos, tentei me reconhecer mas aquilo
diante da minha frente foi contra qualquer pretensão do que eu queria ter me
tornado, um cara ao qual em mente tinha ótimos projetos, tantos desejos
pessoais e um futuro brilhante, que aos 22 já estaria rumo ao doutorado, com
renda fixa, uma casa dos sonhos ao qual juntaria toda a família e os amigos nos
fins de semana para encontros memoráveis. Agora isso não passa de uma longínqua
utopia, agora abro os olhos e vejo a realidade fria ao qual me resta, tento
enxergar quem sou eu diante do espelho, o cabelo desgrenhado, um abatimento
pálido e umas olheiras capazes de assustar até quem já faleceu. O tempo passa
rápido, tudo muda, prédios caem, pessoas morrem, e eu continuo aqui com os
mesmos velhos medos de sempre.
.
Hoje ao deitar eu chorei, não sou desses que choram por
qualquer coisa, meu pai sempre falava que era coisa de perdedor chorar, e ainda
hoje quando me pego chorando lembro dessas palavras, e é como se ele estivesse
ao meu lado falando com aquele tom sério como se chorar fosse a coisa mais
errada. Mas hoje foi inevitável conter as lágrimas, venho escondendo isso a
tanto tempo que as vezes parece que nem vivi aquilo, que foi algo arquitetado
pela armadilha da minha mente.
.
O que me restou foi a chave do quarto 218 do hotel vermelho
escarlate, aquele que sempre nos encontrávamos ao cair da noite, que
instintivamente aguçava com os nossos desejos e parecia tanto conosco, era
intimista, feito maior parte de madeira e sempre exalava aquele cheiro
insuportável de óleo de peroba, aparentava ser meio abandonado e eu sempre
gostei de lugares assim e eu sei que você também, nos dava aquela sensação de
seres únicos ao qual ninguém poderia nos atrapalhar, pelo menos eu me sentia
assim, ou talvez você me fizesse ser único. Depois de muito tempo eu tive
coragem de voltar aquele hotel, o cenário era o mesmo, o mesmo cheiro do óleo
de peroba mas agora não era insuportável eu até gostei, passei pelo velho da
recepção e ele me cumprimentou, mas não como qualquer hóspede, acho que ele me
reconheceu, mesmo depois de tanto tempo. Subi as escadas e passei pelos
estreitos corredores em direção ao segundo andar, parei em frente a porta do quarto, com as chaves em punho girei a maçaneta
lentamente, quando abri a porta me assustei, cada coisa ali estava
milimetricamente igual no seu lugar como tinha visto pela última vez, os meus
olhos então brilhavam, mas assim que passei pelo vão da porta as coisas de
repente mudaram consideravelmente, o quarto poderia ser o mesmo mas eu não me
senti vivo naquele lugar, um gosto amargo invadiu minha boca, era como se
estivesse caído em pequenos pedaços no chão, tudo passou como um flash diante
dos meus olhos, e agora eu me pergunto: onde estão as suas mãos para me
levantar? Então volta e traz, me traz de volta a sua paz.
.
Sentado no vão da escada com as mãos trêmulas apoiadas no
corrimão, na sua blusa encharcada eu enxugo as minhas lágrimas. Nem os nossos
lençóis me aquecem nessas tardes frias. As paredes do quarto ainda permanecem
no mesmo tom.
E de pensar nisso tudo eu me sinto vivo de novo, pois sei
que eu nasci pra te amar, esse sentimento vai além do físico, além da
oxigenação das nossas células.
E se eu caísse de joelhos aos seus pés você me confortaria?
Você choraria sentado ao meu redor? Assopraria o meu machucado?
.
Você choraria sentado ao meu redor? Assopraria o meu machucado?
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Bem, acho que não. Por tudo que tenho passado eu estive por
todo este tempo sozinho, lutando contra as minhas memórias, eu rezo pelo dia em
que iremos superar a nossa queda, o nosso fracasso.
Insensatez é os seus olhos estarem tão distantes de mim, é
você ter partido sem dizer nenhuma palavra, hoje eu já me acostumei com o
silêncio.
Eu sempre soube que eu nasci pra te amar, mas será que você
me amou mesmo? Será que você ama a si próprio? São tantas perguntas sem
respostas, que continuarão sem respostas.
Hoje eu completo 22 anos e eu pedi um presente aos deuses,
que eles tragam de volta todo o melhor que foi roubado de mim,
que acabe o sofrimento no meu peito e que toda essa dúvida e irresolução se
converta a esperança.
Escrito por Jal Vasconcelos - Editado por Jessica Sena (01/05/2013)
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