E eu te encontrarei novamente, ainda me pergunto como você escapou tão rápido das minhas mãos, mas eu sinto a cada movimento do meu coração que você vai voltar por aquela porta.

Tenho lutado sozinho contra os meus mais secretos medos, que invade minhas veias e me deixa mais vazio a cada dia, e assim como os ventos sopram, com a mesma força eu espero por uma segunda chance, uma razão que me traga paz, que te sopre de volta pra mim.

Como um oceano em suas mais altas ondas eu me vejo mergulhar, adentro no seu silêncio profundo, tão frio que me faz sangrar, mas desta vez eu não vou cair, não vou mudar de lugar, não vou me ver despedaçar mais uma vez no chão.

E esta é a única esperança que me faz prosseguir sem olhar para trás, a última chance de tentar encontrar meu caminho de volta, para reconstruir todas as pontes que foram estilhaçadas durante todo esse tempo, é por isso que mais uma vez eu tento.

Não me fale que é tarde, eu escolhi te esperar aqui, de livre e espontânea vontade, por favor não me diga que é tarde, e por tudo que vivemos e pelo que eu sinto, me diga que você sente o mesmo, me jogue na cara toda a verdade.

Eu preciso de uma distração para me manter aquecido durante a tempestade, então segure a minha mão enquanto o céu cai a nossa volta, e esta é a ultima esperança que me mantém protegido para voar para longe daqui, e esta noite eu voou tão vazio, minhas asas e coração estão leves, e talvez eu encontre paz algum dia.

Olho para o céu e ele se encontra dormindo profundamente, e agora em minha alma eu sinto um pouco de conforto, fecho os olhos e desejo ir para um único lugar, onde eu possa me deitar e que o sol esteja ardentemente a brilhar, a queimar meu rosto como nos domingos de verão me vejo ali de novo.

É por isso que eu rezo, eu daria a eternidade por esse momento, para te sentir deitado em meus braços de novo, é por isto que eu rezo e não me entrego.

E assim olharemos fixamente o sol sumir na linha do horizonte, sentindo toda bonança que a vida pode nos dar, de mãos dadas sentimos o vento da mudança nos abraçar novamente. Mas olho para o lado e você não mais está, respiro fundo, tomo a ultima gota de ar, abro os braços e deixo a onda do mar me levar.







 A vida é como um carrossel, girando pra cima e pra baixo, e quando eu estou no alto olho o quanto longe minha vista alcança, e o quanto a minha vida pode mudar, desvio o olhar pois já estou embaixo, e todas aquelas lembranças eu as vejo despedaçadas no chão, elas não podem me ferir novamente, pois o que foi feito não voltará mais, eu persegui todos os meus fantasmas e não tenho mais medo.

Agora tudo ficará bem, o vento levou toda a minha insegurança, a chuva arrastou para sempre todas as minhas tristezas, então me enxergo novamente no espelho, o brilho no olhar voltou a ser o mesmo, Vejo o outro lado, mergulho no lago onde a minha história começa a passar me pergunto quem sou eu pra tentar desmoronar?

 Eu não posso voltar atrás, não posso comandar as mãos do tempo, o que foi dito já passou e está tudo bem, as cicatrizes não me incomodam mais nem mesmo se jogar sal nelas,  mesmo quando a arranho com os meus dedos, e o sangue nas minhas veias que pensei que tinha congelado continua pulsando como sempre pulsou, ardendo ainda mais forte, e o meu coração está pronto pra ser melhor.

 Acho que precisamos deixar que as coisas simplesmente aconteçam, sem pressa nem medo de se machucar, afinal todos nós nos machucamos uma ou outra vez, mas o importante é agüentar firme, mesmo quando a situação perde o controle e você acha que nunca mais vai parar de derramar lágrimas, existe uma luz multicor esperando pra brilhar dentro de você, lutando contra todos os seres que se alimentam dos seus medos voltar para a escuridão, com todo o seu brilho essa força não te deixará sozinho.

 Fehe os olhos e acredite,  Solte as mãos do tempo pois tudo vai ser concertado, não olhe pra trás, apenas deixe ir e ficará tudo bem.  E na falta de musica, dance com o mesmo entusiasmo, crie sua dança, caia, erre,  ache graça dos seus próprios erros pois se falhar encontre outros caminhos , considere soluções. Explore o melhor que existe em você, Acredite no seu potencial, siga pelo caminho do amor não desista dos seus sonhos. Não espere que o outro mude  para que você também o faça MUDE primeiro, renove suas esperanças. O mundo são para aqueles que se arriscam, e quem é você? Um grande herói não precisa ser inatingível, até os melhores heróis choram,Sangram e sofrem pois são apenas seres humanos. Aceite a humildade ela não vai te fazer melhor que os outros, mas você vai ser diferente de muitos. 

 Não abaixe a cabeça para as pessoas que insistem em te pisar, rejeite a exploração, reconheça toda forma de amor. Enterre o passado e no lugar de tristeza coloque o seu mais lindo sorriso no rosto, solte as mãos do tempo. E o que está fazendo parado aí ainda? Levanta essa cabeça, tenha coragem!   Vista sua melhor roupa e mostre ao mundo o seu melhor. Corre igual uma criança, aproveite esse passeio de carrossel,  não chore mais meu bem,  pois o seu sorriso pode mudar o mundo.

Escrito por Jal Vasconcelos 14/05/13



 E eu daria tudo pra te ter de volta, passo horas e horas do meu dia sentado na janela olhando para o nada, afogado em recordações que não me deixam seguir em frente.
Escrevo, deito, ligo a tv, volto a escrever novamente, dou voltas e voltas pelo apartamento todo, como se procurasse por algo que perdi, mas sem nunca ter me pertencido de fato. Algo que não existe, mas me faz tanta falta quanto o pulmão precisa de oxigênio para respirar, eu mal tenho conseguido respirar.
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 Ontem pela manhã, escovando os dentes me peguei olhando no espelho, e percebi que envelheci uns 30 anos, tentei me reconhecer mas aquilo diante da minha frente foi contra qualquer pretensão do que eu queria ter me tornado, um cara ao qual em mente tinha ótimos projetos, tantos desejos pessoais e um futuro brilhante, que aos 22 já estaria rumo ao doutorado, com renda fixa, uma casa dos sonhos ao qual juntaria toda a família e os amigos nos fins de semana para encontros memoráveis. Agora isso não passa de uma longínqua utopia, agora abro os olhos e vejo a realidade fria ao qual me resta, tento enxergar quem sou eu diante do espelho, o cabelo desgrenhado, um abatimento pálido e umas olheiras capazes de assustar até quem já faleceu. O tempo passa rápido, tudo muda, prédios caem, pessoas morrem, e eu continuo aqui com os mesmos velhos medos de sempre.
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Hoje ao deitar eu chorei, não sou desses que choram por qualquer coisa, meu pai sempre falava que era coisa de perdedor chorar, e ainda hoje quando me pego chorando lembro dessas palavras, e é como se ele estivesse ao meu lado falando com aquele tom sério como se chorar fosse a coisa mais errada. Mas hoje foi inevitável conter as lágrimas, venho escondendo isso a tanto tempo que as vezes parece que nem vivi aquilo, que foi algo arquitetado pela armadilha da minha mente.
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O que me restou foi a chave do quarto 218 do hotel vermelho escarlate, aquele que sempre nos encontrávamos ao cair da noite, que instintivamente aguçava com os nossos desejos e parecia tanto conosco, era intimista, feito maior parte de madeira e sempre exalava aquele cheiro insuportável de óleo de peroba, aparentava ser meio abandonado e eu sempre gostei de lugares assim e eu sei que você também, nos dava aquela sensação de seres únicos ao qual ninguém poderia nos atrapalhar, pelo menos eu me sentia assim, ou talvez você me fizesse ser único. Depois de muito tempo eu tive coragem de voltar aquele hotel, o cenário era o mesmo, o mesmo cheiro do óleo de peroba mas agora não era insuportável eu até gostei, passei pelo velho da recepção e ele me cumprimentou, mas não como qualquer hóspede, acho que ele me reconheceu, mesmo depois de tanto tempo. Subi as escadas e passei pelos estreitos corredores em direção ao segundo andar, parei em frente a porta do quarto,  com as chaves em punho girei a maçaneta lentamente, quando abri a porta me assustei, cada coisa ali estava milimetricamente igual no seu lugar como tinha visto pela última vez, os meus olhos então brilhavam, mas assim que passei pelo vão da porta as coisas de repente mudaram consideravelmente, o quarto poderia ser o mesmo mas eu não me senti vivo naquele lugar, um gosto amargo invadiu minha boca, era como se estivesse caído em pequenos pedaços no chão, tudo passou como um flash diante dos meus olhos, e agora eu me pergunto: onde estão as suas mãos para me levantar? Então volta e traz, me traz de volta a sua paz.
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Sentado no vão da escada com as mãos trêmulas apoiadas no corrimão, na sua blusa encharcada eu enxugo as minhas lágrimas. Nem os nossos lençóis me aquecem nessas tardes frias. As paredes do quarto ainda permanecem no mesmo tom.
E de pensar nisso tudo eu me sinto vivo de novo, pois sei que eu nasci pra te amar, esse sentimento vai além do físico, além da oxigenação das nossas células.
E se eu caísse de joelhos aos seus pés você me confortaria? 
Você choraria sentado ao meu redor? Assopraria o meu machucado?
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Bem, acho que não. Por tudo que tenho passado eu estive por todo este tempo sozinho, lutando contra as minhas memórias, eu rezo pelo dia em que iremos superar a nossa queda, o nosso fracasso.
Insensatez é os seus olhos estarem tão distantes de mim, é você ter partido sem dizer nenhuma palavra, hoje eu já me acostumei com o silêncio.
Eu sempre soube que eu nasci pra te amar, mas será que você me amou mesmo? Será que você ama a si próprio? São tantas perguntas sem respostas, que continuarão sem respostas.
Hoje eu completo 22 anos e eu pedi um presente aos deuses, que eles tragam de volta todo o melhor que foi roubado de mim, que acabe o sofrimento no meu peito e que toda essa dúvida e irresolução se converta a esperança.


         Escrito por Jal Vasconcelos - Editado por Jessica Sena (01/05/2013)




Ainda lembro do seu cheiro no meu cobertor, das noites em claro que passávamos juntos, dos nossos sonhos e promessas. Lembro de quando você me impulsionava, e me protegia dos meus medos, eu dormia com as mãos nas suas segurando os seus dedos, morro de rir quando lembro da sua cara amassada quando acordava, você ficava sem graça porque sempre ficava te olhando dormir, ouvindo sua respiração e as batidas do seu coração, você ficava com raiva mas logo passava, depois tomávamos o café da manhã no qual eu  comentava super entusiasmado sobre a noite passada e você fazia charme com aquele olhar de desdém, e como se não demonstrasse interesse  folheava as páginas do jornal. Você tinha um talento fora do comum pra me irritar ou quando colocava os objetos que eu guardava com esmero em outro lugar, ou mexia nos meus CDs de Pink Floyd e não os colocava na capa ou quando deixava o vaso aberto, você tinha mania de me controlar, eu sei às vezes eu merecia porque passava do limite mas você também exagerava . 

Ainda lembro do seu sorriso no canto da boca, que você sempre dava em sinal de negação, ou quando falava com ironia “eu não me importo”, aquilo me dava nos nervos, tinha dias que nós falávamos muito, mas outros simplesmente só precisávamos estar perto um do outro, quando as palavras se calam é hora dos sentimentos assumirem controle, então nos abraçávamos, nos beijávamos, nos entreolhávamos e assim fazíamos sexo ali mesmo no chão da sala, melhor dizendo no tapete de pelúcia que a sua mãe nos deu no último natal. 

Lembro quando inventava maneiras de chamar sua atenção, comprava roupas novas, estudava sobre leis e politica só pra ter algo a mais pra conversar com você, mesmo isto não tendo nada haver comigo, eu fazia de tudo pra adentrar no seu universo, você se surpreendia e olhava com orgulho pra mim, de algum modo sei que te fazia feliz e eu me sentia mais feliz ainda, gostava sempre de renovar nossa relação, nunca permanecia a mesma coisa por muito tempo, lembro do dia em que resolvi ir a um sex shop comprar fantasias para apimentar a relação que já não estava mais essas coisas, comprei um kit salva-vidas e já tinha montado todo um itinerário na minha cabeça de como íamos usá-lo, pensei em você usar o kit e me salvar porque eu estava me afogando na banheira e depois você me tirava pelos braços e me fazia massagem cardíaca fazendo respiração boca a boca, o fato é que saiu tudo o contrário, pra começar eu cheguei mais cedo do trabalho em casa e fui te esperar, coloquei a roupa no quarto pra você vestir e fui pro banho com um vinho 12 anos, todo mundo sabe que eu sempre fui fraco pra vinho, mas como a noite ia ser quente precisava estar quente também, no fim eu bebi demais e quando você entrou no banheiro estava com a roupa de salva-vidas e com uma cara de constrangimento, não suportei e comecei a rir, não pela sua cara, mas pela roupa que ficou ridícula em você, então meu plano de ser salvo foi por água a baixo, mas depois conversamos e a noite foi muito melhor do que podia imaginar. 

Lembro das nossas viagens de verão, quando íamos pro sobrado na praia e levávamos os nossos amigos, dos luaus em volta da fogueira à beira mar, cantávamos de Rolling Stones a Legião Urbana em um passo, bebíamos e fumávamos, depois andávamos pela areia da praia e cansados nos sentávamos à beira do cais esperando o sol brilhar no horizonte, e agradecíamos por estarmos vivos.  Ainda existe a mancha do molho de tomate que você derramou no carpete do corredor, ainda guardo na minha agenda as declarações que você me escrevia quando não tinha coragem de falar, hoje eu penso em você sentado no sofá noite e dia, suas gargalhadas ainda ecoam pelas paredes do apartamento, adormeço e ainda ouço sua voz me chamando pela madrugada e quando acordo é um pesadelo maior ainda, porque sei que você não vai estar do meu lado segurando as minhas mãos. E aquela pessoa segura e feliz foi embora junto com suas últimas peças de roupa, o que vejo agora é só um vazio, um querer. Tento sair e me distrair, ando bebendo cada vez mais que já não sei onde quero chegar, se é que quero chegar em algum lugar, fiquei sem rumo no mundo, mas talvez este é o preço que se paga por ter liberdade demais, e estes últimos 4 anos se resumem a apenas uma caixa de sapatos onde guardo nossas fotografias e a agenda que você escrevia, o resto é apenas solidão. 

Nosso magnetismo era algo cósmico, coisa de outros tempos que se torna humano demais pra explicar, o que eu  sinto por você é algo inexplicável e sei que você ainda sente o mesmo por mim, mas quando o tempo passa, se torna tarde demais pra esquentar o frio que se apossa de nós, o orgulho fala mais alto e o que é perto se torna cada vez mais distante, me sinto como um ator esquecido no enredo, um coadjuvante sem valor que foi simplesmente descartado por não ser mais conveniente ao papel que lhe foi dado. Este é o teatro da vida, onde a cada dia cumprimos nossa sina, mas tudo está aqui bem guardado dentro de mim, eu ainda lembro, só espero que você quando me encontrar novamente ainda lembre de mim!


     Escrito por Jal Vasconcelos      Editado por Jessica Sena 13/02/13







 E quando olho para o céu, e o vento sopra no meu rosto, me deito debaixo do carvalho do parque da esquina, que permanece intacto e mais bonito a cada ano. 
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 Voltando aqui, memórias aparecem dos mais diversos lugares da minha mente, e carregam a minha alma para momentos de outros tempos, que foram abafados pelo caos da cidade grande. Mas, voltando aqui agora, vejo que esses pequenos momentos fazem minha vida valer a pena,  voltando páginas da minha vida, me sinto feliz por ter compartilhado da graça de ter tido uma boa infância e as lágrimas escorrem, e meus olhos se perdem de vista, e eu me pego olhando fixamente para o horizonte e agora eu sei que não existe outro lugar onde eu possa estar. É exatamente aqui onde devo ficar.
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Em 1996 todos os domingos, logo após o jogo de futebol que passava naquela tv antiga, que precisávamos sempre mudar a antena de lado pra poder funcionar, sempre íamos para debaixo do carvalho, comer pipoca e olhar o pôr do sol, não existia prazer maior que ficar ali, com o cheiro de grama verde e ouvindo o barulho dos pássaros misturado com o som das nossas gargalhadas, e então voltávamos pra casa, felizes e completos por dentro.
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 Hoje, voltando aqui, percebo que esses momentos são tão preciosos que se soubesse teria aproveitado mais. Pouca coisa mudou, o cenário é o mesmo, só que com outras pessoas, é estranho ver a história se repetir bem debaixo do meu nariz, o tempo é implacável e nos transforma por dentro, eu já não posso mais segurar o tempo em minhas mãos, nem controlar o vento que me impulsiona a seguir em frente.
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 Olho a tempestade que se aproxima e vem do norte, o cheiro de terra molhada e uns primeiros pingos de chuva caem sobre minha cabeça, molhando levemente minha boca  e penetrando nos meus poros, respiro fundo e um intenso raio brilha e reluz faíscas em vertigens de um dourado claro emoldurando a paisagem, parece até que estou sonhando acordado e não existe mais palavra para descrever o tamanho da paz que invade o meu corpo, essa paz que acalma meu coração e expurga do meu peito qualquer indício de desespero.
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E agora sei que por todo esse tempo nunca estive sozinho, que o meu passado nunca foi esquecido,  ele esteve apenas escondido por trás do véu dos tempos,  fecho meus olhos e mais um dia se vai,  é aqui que eu preciso estar, e depois da chuva dou vida a um novo eu que precisa renascer, encontro o caminho, retomo a fé perdida e prometo a mim mesmo que jamais esquecerei de quem eu fui, e que hoje reconheço ser mais forte por ser quem eu sou, e agora encerro com grande júbilo, mais uma página da minha historia, do meu eu, de quem sou e de tudo que restou.

       Escrito por Jal Vasconcelos
       Editado por Jessica Sena








 Sinto falta das suas roupas penduradas no varal, o qual eu passava horas olhando por trás, pela linha do horizonte, como se você ainda fosse voltar, e preso fixamente sentado na varanda vendo nossas fotos e discos, lembrando quando você com cara de bobo olhava nos meus olhos e cantava perfeitamente: “Let me get what I want”, e eu fechava os olhos e  me embriagava nas suas notas, sua voz rouca ajudava a compor o nosso cenário feliz de manhã ensolarada de domingo.

 O contraste do sol, exposto no seu corpo tatuado flexionado em torno de mim. Era como se você soubesse o que eu queria, me sentia uma criança nos seus braços, talvez por ter passado a vida solitário me sentia bem em ter alguém ao meu redor, inconscientemente aquilo me fazia mais forte e uma pessoa melhor.

 Era impressionante os nossos gostos em comum, lembra que sempre líamos juntos Clarice toda noite antes de eu pegar no sono e dormir segurando suas mãos? Aquele livro manchado de café nas últimas páginas, pois caímos no sono e você derrubou ele em cima da caneca de café? Do livro que nós nos sentíamos felizes e dormíamos esperançados e renovados para o outro dia? Pois é, ele ainda está marcado na página que você parou, e eu nem ouso chegar perto dele, é como se queimasse e eu sei que se eu ler novamente sem você comigo, aquelas palavras irão me consumir por inteiro.

 Você era metodicamente organizado, tudo deveria estar em seu devido lugar, já eu sempre fui o oposto, deixava as roupas jogadas pelo chão do quarto, perdia as chaves, documentos e você sempre me olhava com aquela cara de reprovação, eu já sabia que você não gostava, mas acho que fazia aquilo pra ver sua cara de raiva, com os olhos fechados e a boca levemente cerrada como se fizesse bico. Eu não conseguia olhar nos seus olhos, pois sabia que se olhasse por mais de cinco segundos cairia na gargalhada e você ia ficar com mais raiva ainda.

 Lembra que arranhei o seu disco do Led Zeppelin, quando esforçadamente tentava tirá-lo da capa, você sabia, eu sempre fui desastrado e não sou muito delicado com as mãos,  sempre lutei contra a gravidade em uma guerra que sempre fui vencido, peguei o disco do chão e coloquei rapidamente de volta ao seu lugar, quando você voltou do trabalho, ligou o som e pegou o disco pra ouvir, eu estava posto do seu lado e o sangue correu frio nas minhas veias, você já estava estressado e colocou para ouvir “The Rain Song”, minha musica favorita, você tinha prazer em me agradar e de repente no segundo solo da música, que você imitava com a boca o disco travou, você olhou para a minha cara e eu já ia me explicar, mas você percebeu minha cara de desespero e com a maior calma do mundo falou que tinha arranhado o disco na ultima vez que ouviu. Foi perceptível minha cara de alívio, daí você veio e pegou as minhas mãos como se falasse: Se acalme,está tudo bem.

 Você sempre me ouvia cantar e tinha um prazer maquiavélico em me criticar, sentado no sofá reclamava que eu nunca alcançava os tons, e se o Jimmy Page me ouvisse cantar iria ficar muito puto, você me chamava de Jim Morrison tuberculoso, pois eu não conseguia alcançar os tons lentos e eu sempre era mais eufórico e dramático do que a música exigia, eu sabia que era verdade, mas não ligava, continuava cantando como se ninguém estivesse ali me julgando, com os olhos arqueados e sempre com a cara de negação, mas por dentro eu sabia que você adorava me ouvir cantar, com minhas performances exageradas e nada artísticas, sempre caíamos na risada e eu nunca conseguia chegar na segunda parte. Eu adorava nossas discussões infantis, onde não chegávamos a nada e acabávamos com um pedindo perdão ao outro e ficava tudo bem, e logo depois você vinha correndo me beijar.

 Você apoiava os meus sonhos, e sempre me impulsionava a seguir em diante, por mais esdruxulo e impossível que fosse meus planos, passávamos horas e horas falando sobre o nosso futuro, como seríamos dali a dez anos, como seriam nossos filhos e como seria o nosso amor depois de tanto tempo, nós nunca fomos inconsequentes e eu sempre achei que você conhecia a mim melhor que eu mesmo, e desse jeito eu sempre acreditava que iria ficar tudo bem.

 Talvez o tempo tenha desgastado o que sentíamos, quebrado as pontes que nos norteavam um ao outro. Sinto irrevogavelmente tristeza em lembrar em você ou o que poderíamos ter sido, pensei que sempre éramos fortes o bastante para aguentar qualquer empecilho, e hoje eu sei que não existe mais nada longe de você.

 Tenho conseguido segurar firme, talvez por querer me mostrar forte pra você, não aparentar qualquer indício de fraqueza, pois você sempre odiou pessoas fracas e eu por dentro sempre morri de medo de não superar suas expectativas, e quando nos encontramos pela última vez, você perguntou da minha vida e eu respondi que estava indo muito bem, falei sem nenhuma animação das poucas novidades que me tinham acontecido, me subiu um gosto amargo na boca, pois não estava nenhum pouco bem e me senti ainda mais destruído, quando você falou que tinha saído do emprego que tanto amava, e estava prestes a mudar de cidade com uma nova pessoa que conheceu, eu não quis aceitar que você tinha mudado e que eu não estava mais nos seus planos, me senti impotente e ainda mais vazio.

 E hoje faz dois anos e eu sei melhor do que ninguém que ainda preciso de todo o seu cuidado, tenho que parar de me castigar, as rosas que você me deu foram arremessadas a sete andares abaixo, mas sou eu quem estive caindo todo esse tempo, e eu gastei todos os meus créditos, usei todos os meus artifícios, estou só nessa guerra sem armadura, sem munição, sou só um alvo, que com o peito em chamas espera a explosão.
Acho que não posso fazer mais nada, eu devo ter mudado também, me tornei mais frio e tenho tanto medo de me olhar no espelho, pois sei que não irei me reconhecer. Hoje você está casado, tem uma filha e o que mais me dói é que ela é justamente o que eu sempre sonhei em ter. Não posso mudar a realidade por mais que eu pense e repense onde foi que eu errei, talvez tenha sido a circunstância a grande culpada, quando uma coisa predestinada toma um sentido oposto, quando não tem que ser. Mas confesso que ainda hoje mesmo que seja inconsciente, me sento na varanda, acendo um cigarro e olho ao meu redor, respiro fundo e  com a porta aberta, espero que você volte.


Escrito por Jal Vasconcelos
Editado por Jessica Sena